Os vegetarianos, os veganos – que não consomem nada de origem animal – e os simpatizantes devem ficar atentos aos alimentos industrializados que têm surgido para acompanhar a tendência de restrição do consumo de carne dos brasileiros. Uma nutricionista e um pesquisador da Unicamp, em Campinas (SP), ambos veganos, alertam que só o fato do alimento não ter carne não garante uma alimentação saudável.
Segundo a nutricionista Ana Ceregatti, especialista no atendimento a vegetarianos e veganos, as pessoas que querem se adequar a esse estilo de vida precisam ficar atentas às chamadas “porcarias veganas”, como salsichas, presuntos, linguiças e mortadelas, que nos rótulos trazem a frase libertadora “sem origem animal”, mas que na verdade têm origens nada saudáveis.
“Mortadela vegetal e mortadela animal são a mesma porcaria. São alimentos ultraprocessados e cheios de aditivos alimentares que não trazem nenhum benefício pra saúde. Possuem excesso de conservantes e de sódio. É como se fosse um salgadinho”, alerta.
A nutricionista justifica o investimento dos consumidores nesse tipo de alimento similar às versões “carnívoras” como parte da nossa cultura. “O brasileiro se alimenta muito mal”.
No caso de alimentos feitos de soja, Ana recomenda o consumo do tofu orgânico, por exemplo. “Carne, leite [de soja] e mesmo a soja em grãos não são boas formas de consumir a soja por causa do processamento e do baixo valor nutricional”, explica, para a opção de usar a soja transgênica.
Para entender melhor a diferença entre os orgânicos e os transgênicos, o mestre em alimentos e nutrição da Unicamp David Wesley Silva explica que alimentos orgânicos, no geral, são mais saudáveis porque não são usados fertilizantes e agrotóxicos na produção.
No caso da soja, exitem os dois tipos, mas a maioria dos produtos comercializados é feita com a soja transgênica, segundo ele. “Se você quiser um alimento saudável tem que saber a procedência”, e a informação deve constar nos rótulos.
O investimento no mercado vegetariano se deve ao crescente número de adeptos no Brasil. Em Campinas (SP), por exemplo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), cerca de 8% da população é vegetariana, o que chega a ser maior do que a média registrada na capital paulista, de 7%. O estudo foi feito em 2012.
Para pesquisador da Unicamp, ser vegetariano é simples e não custa caro. Ele afirma que uma dieta com carboidratos, minerais e proteínas vegetais é balanceada e pode diminuir as despesas familiares em até 30%, opção em tempos de crise.
“O que você gastaria com a carne, você pode gastar com castanhas e outros alimentos”, conta.
Decisão racional x rótulo do produto
Para a estudante de jornalismo de Campinas Mariana Dandara, que tirou totalmente a carne e os derivados do cardápio, ainda é difícil fugir de alguns produtos industrializados. Ela é vegetariana há três anos e vegana há um ano, mas “escorrega” na hora de perceber os alimentos que leva para casa.
“Nunca fui numa nutricionista e não olho a questão do sódio. É uma decisão racional. Você pensa e vê que aquilo [de não prejudicar os animais] é melhor”, conta.
Entre as refeições que ela consome estão cachorro-quente de salsicha de soja, lanche de presunto e queijo veganos e bolo de cenoura com cobertura de chocolate vegano.
Mas produtos comprados prontos não são as únicas escolhas da universitária. Sempre que pode, ela prepara seus próprios alimentos, e diz que melhorou os hábitos.
“Senti que minha alimentação melhorou depois que eu virei vegetariana. Não comia feijão e agora como. Comprava um salgadinho [daqueles industrializados assados] e agora prefiro aperitivos saudáveis [desses vendidos em lojas especializadas]”, garante. Mariana também acrescentou no novo cardápio lentilha e grão de bico.
No lugar de “armadilhas”, o simples
O pesquisador da Unicamp concorda que é preciso tomar cuidado com as armadilhas atraentes dos supermercados e restaurantes. Mesmo assim, reforça que, ainda que consumam alguns produtos industrializados, as pessoas vegetarianas têm a tendência de fazer escolhas mais saudáveis.
“Nem todo produto vegano é realmente saudável. Por outro lado, quem geralmente é vegetariano é uma pessoa mais preocupada com a saúde. A opção vegetariana é excelente e barata para todo mundo, e ecologicamente fundamental. Mas, não deixe a alimentação separar você das pessoas”, afirma.
As escolhas, segundo ele, podem ser decisivas para reduzir riscos de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e obesidade. “Já foi-se o tempo em que falavam que o vegetariano iria morrer”, destaca. Na foto acima, hambúrguer de grão de bico, pão integral, granola, leite de castanha, frutas e castanhas na mesa de café da manhã do pesquisador.
Para a nutricionista Ana Ceregatti, a alimentação vegetariana e vegana realmente saudável deve ser simples e não exige alimentos diferenciados que estão na moda. As leguminosas como feijão, lentilha, ervilha e grão de bico são essenciais para compensar as proteínas da carne.
“A combinação de arroz, feijão e salada no almoço, por exemplo, já seria suficiente para suprir carboidratos, proteínas e outros nutrientes”, garante.
Fonte:g1.globo.com/sp